Encontro-me
hoje ao fim dos meus dias e também muitos morrem juntamente comigo neste
momento. Mataram-me para se enriquecerem, para solidificarem a minha água em
carros de luxo, sim, solidificaram a minha água em um patrimônio imensurável,
fazendo com quem imensurável mesmo é o número daqueles que não tem condições de
comprar água mineral para o consumo, assim, como aqueles que sobrevivem de mim.
Mataram-me para propagarem a desigualdade social dentro deste pequeno espaço geográfico,
Jardim de Piranhas.
Sim,
mataram-me, logo eu que te banhava, que matava a tua sede, que fazia com que as
suas plantações dessem frutos, logo eu que te dava a oportunidade de levar o
alimento para tua mesa, o peixe. Por que me mataste? Acaso não sou preciso para
ti ou tu escolhes solidificar a minha água neste coração de pedra que há dentro
de ti, que não é capaz de ver o trabalhador que chora e que lamenta a minha
morte, por que fizeste isto comigo, com os teus parentes, conhecidos, amigos e
munícipes? Acaso a tua vida és mais preciosa do que as dos outros deste
município?
Por qual
motivo não me defendestes quando mandaram um milhão e meio de Reais em prol da
minha vida contra os venenos jogados em mim? Que pensavas tu neste momento de
inércia? Que lama colocaram em teus olhos, que te fizeste incapaz de ver as
necessidades dos teus semelhantes por mim, responda-me, filho meu? Onde tu se
encontras neste momento que ainda não viestes me visitar, ao menos para me
pedir perdão por tudo que tens feito em mim, pois a tua ação impensada
ocasionou a minha morte, eu te perdoou, pois sou vida, VENHA-ME VISITAR E EXPERIMENTE-ME PARA SENTIRES NA PELE COMO ESTOU
DOENTE, INFECCIONADO POR TEU EGOÍSMO, POR TEU ORGULHO, POR TUA AMBIÇÃO,
visite-me e PROVES DO TEU PRÓPRIO
VENENO.
Quem
sou eu? Eu sou a História de Jardim de Piranhas, em mim todos vocês se
banharam, se divertiram; EU SOU AQUELE,
QUE NO QUAL, NOSSA SENHORA DOS AFLITOS REALIZOU O SEU MILAGRE EM DEFESA DOS
VAQUEIROS E DO SEU REBANHO, eu sou aquele que por mim se iniciou o
crescimento desta cidade, eu sou Jardim de Piranhas, eu sou você que trabalha
para sustentar a família, eu sou você que busca educar os seus filhos, EU SOU O CORAÇÃO DE JARDIM DE PIRANHAS.
EU SOU O RIO PIRANHAS e hoje TENHO SEDE DA MINHA PRÓPRIA ÁGUA.
SOCORRAS-ME TU QUE ME COLOCASTE NA “UTI”. (Joildo Alexandre, Jardim de
Piranhas, Séc. XXI).